Espelho da alma

   Ela era louca, mas não de um jeito ruim. Tinha estranhas fixações e paranoias, era apegada a detalhes excêntricos e obcecada em trejeitos anormais. Há horas admirava os olhos dele. Achava genial o modo como mudavam de cor em determinados momentos, como transpareciam tudo o que se passava nos pensamentos dele e ele nem percebia. Chovia lá fora, mas a brisa fria que adentrava pela janela não os acometia, visto que estavam abraçados e embalados por três cobertores.
- Não cansa de me olhar, senhorita? - Ele sussurrou. A calmaria estampava seu rosto.
- Nunca. - Ela sorriu, seguida por ele. - Faria isso pela eternidade, se pudesse fazer pausas esporádicas para comer.
   Ele gargalhou. Ela fechou os olhos para apenas ouví-lo. Sua risada era como música, como calmante. Quando voltou a si, fitou sua boca. Aveludada, macia, desejável. E o beijou. O barulho da chuva fez-se mais intenso e o calor entre os dois aumentou. Enquanto ele beijava seu pescoço, ela sentia as mãos dele, geladas, percorrerem sua perna, quadril, cintura, seios... E sorriu.
   Em momentos como esse, todas as dúvidas se dissipavam, e tudo era certeza. Quando ele a tocava, ela podia jurar que ia ao céu. Tentava manter os olhos abertos, para admirar o contraste do quarto quase escuro com a pele dele, excessivamente branca como a neve... Mas não podia, visto que o prazer a fazia sair de si. No final de tudo, voltava para os olhos.
   E derretia-se por dentro. Amava (sim, ela A-M-A-V-A, com toda sua força) a mania que ele tinha de fitar o teto, de suspirar toda hora, de não saber o que fazer com as mãos. Achava curioso o modo como o coração dele o denunciava e trocava o ritmo de suas batidas de acordo com o pensamento que ele tinha. Sentia-se única quando ele mostrava-se preocupado com ela, sentia-se a melhor garota do mundo quando era amparada por ele. E gostava do modo como eles eram iguais quando não queriam pensar no futuro, quando mantinham-se juntos apesar da distância física, como o amava.
   Agora era ele quem a olhava.
- Eu amo seus olhos, sabia? - Ele disse, sério.
- Não, eu que amo os seus - Ela sorriu.
- Por quê?
- Porque eles são o espelho da sua alma. Eles falam comigo.
- Ah, é? - Ele gargalhou. - O que minha alma está falando agora?
- Tá sorrindo.
- Não tão errado. Mas minha alma está dizendo outra coisa. - Disse ele, enquanto acariciava as têmporas dela.
- O que diz a sua alma? - Ela perguntou, curiosa.
- Diz que eu te amo. Muito.
   Ele sorriu e a beijou. Ela era louca, mas não de um jeito ruim. Louca por ele. Assim como ele, que era louco por ela.

Vitória

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