Você


      Borboletas serelepes esvoaçaram dentro de mim, provocando um furacão trêmulo em meu estômago. Não parecia enjoo, mas tudo se revirava de uma forma desconcertante enquanto minhas mãos suavam deliradamente quentes dentro do bolso. As pernas bambeavam, valseando vagarosamente um compasso já conhecido. O som ao redor diminuiu até sumir. Um pingo de suor escorreu e foi de encontro ao chão.
      Espatifou-se.
      "Quando nada é cheio de você, tudo torna-se tão vazio... E quem me dera que toda a tremulação do mundo me acometesse sempre e por inteiro, sem espaço para suspiro ou divagação. É nesse momento em que desejo parar o tempo e ficar admirando sua serenidade. Inspiração. Você é o pranto da poetisa desiludida, a viagem estática da lunática, o coração pulsante de um amor solitário. É você e não será mais ninguém."
      Você. E eu forcei o pé no chão para conseguir continuar de pé. E revirei os olhos para respirar sem o furacão interno que joga tantas verdades diante de mim. "E eu preciso. Eu quero. Eu desejo. Espero. Você." "A bagunça que habita a minha mente dia após dia, o momento triste após a risada exagerada. A lembrança que aos poucos se apaga e luta para sair de mim."
      Um suspiro melancólico e demorado. Novamente forcei o pé no chão. Os sons começavam a voltar aos ouvidos: burburinhos, respirações alheias e acordes no piano. E meu coração. (Meu coração? Estava ouvindo meu coração?) Revirei os olhos, chacoalhei as mãos e foquei a atenção em um ponto morto qualquer, mas sempre à sua procura. As borboletas, aos poucos, sossegaram. As mãos esfriaram. As pernas recuperaram-se. Tudo tornou-se vazio novamente.
      E foi assim que me senti durante os dois segundos e meio em que seu olhar estacionou em mim.

Vitória

3 comentários:

  1. Sua palavras são lindas, para descrever algo tão triste. Algo tão eu no momento que senti vontade de chorar.

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  2. Tentando descrever o quanto amei esse texto, mas parece impossível.

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