Joana I

Descontentamento. Entre relações vazias, hiatos regados à álcool e tentativas de preenchimento, Joana tropeçava de boca em boca, certa de que acabaria sozinha no final.
"Duas coisas fazem o mundo girar", pensava ela, "dinheiro e sexo. De fato, o dinheiro compra sonhos e constrói pontes rumo ao futuro... Mas o sexo é só... isso?". Era absurdo que todo o jogo de egos do mundo acontecesse por causa dessa experiência sem graça. Nada a fazia conceber de que aquele entra-e-sai afobado e cacoso era o que movia as pessoas. Formulava hipóteses sobre o que poderia estar errado consigo enquanto olhava para o teto, um cara suado montando-a, esforçando-se excessivamente, urrando palavras cheias de lascividade, que objetivavam encontrar o mínimo tesão nos olhos opacos de Joana.
— Foi bom pra você? 
Este já era o sexto cara com o qual ela tentava fazer a coisa toda dar certo, sem sucesso. Quando via as amigas conversando sobre sexo, convencia-se de que ainda não havia achado um cara que soubesse fazer direito. A cada estranho que deitava em sua cama, enfezava-se, pois qual seria a possibilidade de ela ter escolhido SEIS caras que transavam mal?!
— Foi sim. Preciso acordar cedo amanhã... Tudo bem se você for embora agora? Tenho que dormir. 
Essa era a desculpa que ela sempre dava. Não queria ter que lidar com todo o protocolo de fingir que o sexo foi incrível - e talvez até ter que repetí-lo -, dormir abraçada, acordar e agir como se estivesse em um comercial. Inventar obstáculos era a forma mais simples e rápida de se livrar destas obrigações sociais.
Uma vez sozinha, pegou o celular e colocou seu álbum preferido para tocar: Bitter, da Meshell Ndegeocello. Apagou a luz do quarto, acendeu o abajur e deitou-se. Alisou a barriga de forma sutil, fechando os olhos e sentindo a música que tocava. 
Such pretty hair 
May I kiss you? 
May I kiss you there?
Lentamente, sua mão foi passando pelos seios, acariciando seus mamilos em movimentos circulares e desmedidos. Algo quente começava a tomar seu corpo, as costas começando a transpirar. O edredom que a cobria não se fazia necessário, mas escondia algo que ela só dividia consigo. O prazer.
Com a mão esquerda ainda no seio, escorregou a direita para dentro da calcinha. As pernas começavam a perder o pudor e abriam-se, ao passo que ela visualizou a imagem da atriz que havia visto em um filme no dia anterior.
Era como se a atriz estivesse ali, em pessoa, beijando o interior de suas coxas despretensiosa e calmamente, sem pressa. Entre os beijos, entregava-lhe os mais instigantes olhares, como quem não sabia qual seria o próximo passo, mas descobriria ao respeitar seu ímpeto.
Sua língua quente tocaria seu ponto mais sensível, e ela soltaria um gemido abafado, como quem esconde algo. Enquanto esta língua passeasse em seu sexo, sensações diversas passeariam em seu corpo. Também em seu corpo, as mãos de ambas. Apertos. Roxos.
Quando o corpo clamar por pausas, como se o prazer estivesse no ápice, as mãos estariam no sexo - juntamente à língua. Trabalhariam em conjunto, como se fossem um só. Joanna puxaria seu cabelo e a atriz lançaria novamente seus olhares, mas desta vez não seriam mais olhares de quem não sabe a próxima coisa a se fazer. Seriam olhares de certeza de que a coisa certa já estaria sendo feita.
A explosão tomaria conta de seu corpo, as pernas bambeariam, tremeriam, estariam espasmódicas. E assim, de fato, a explosão tomou conta de seu corpo. As pernas bambearam. Tremeram. Ficaram espasmódicas. Arfante, abriu os olhos lentamente e desfrutou da sensação. Isso era o que ela procurava nos infinitos homens aos quais cedia o lençol. Nunca aconteceu.
Às vezes, questionava-se sobre o fato de precisar pensar em mulheres para alcançar o prazer. Acreditava ser pela atenção com a qual as mulheres lidam com o sexo, nada mais. Pensou novamente nisso, mas não se ateve.
Bebeu da água que estava no criado-mudo e virou para o lado. Adormeceu, suas partes pulsantes como quem acabara de dispor de um prazer puro. O prazer real.

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