?

     Nem sei como eu vim parar aqui. Não digeri as notícias, não me acostumei ao futuro. Para ser sincera, não irei me acostumar com esse futuro estranho que você planejou e nem quero pensar nisso agora. O próprio presente já é um pesar, tão doloroso quanto o passado no qual você me prendeu - e nem sabe. E pensar que um dia eu senti saudade do drama! Que inocência.

    Estive, em minhas conversas comigo mesma, relembrando tudo o que passamos para chegar até aqui. A amizade inconclusiva, as conversas - elas existiram ou foram delírios? - no quarto, cada um em uma cama, sobre a vida. O dia fatídico, o qual eu sinceramente não tenho conclusões - você deu o primeiro passo, mas eu realmente titubeei?, as escapadas. Você sempre foi indiferente à minha presença quando não estávamos fazendo tudo aquilo? Você me elogiou alguma vez ou foi sincero? Eu não sei.

    Me parece patético que a música que mais me lembra todo o turbilhão que você foi em mim seja um sertanejo. Mas que posso fazer, se "me apaixonei pelo que inventei de você"? Em todos estes anos, contei e recontei tantas vezes nossa história que, assumo, inventei alguns detalhes. Me fazia menos pior pensar que você pudesse ter sentido qualquer fragmento de amor - ou até mesmo apreço - por mim. Mas passou tanto tempo que agora não sei mais o que é real.

    Enfim, a conversa comigo mesma. Não me lembro mais como era tudo antes e depois. Me lembro que você não era só você e que depois voltou pra São Paulo. Passou um tempão longe. Eu voltei pra São Paulo. Nada. Nos encontramos em Porto Alegre. Aquele dia foi o melhor (foi mesmo? Ou inventei de novo?) mas foi um só. Teve a festa, mas eu voltei pra São Paulo de novo. Ah... Ainda bem que ninguém lê isso aqui - a necessidade de fazer sentido some! É só um descarregamento do tantão de coisa que acabei de falar sozinha, repassando os últimos anos, tentando entender se eu realmente errei ou se você nunca foi humano.

    Ah, a retrospectiva. Foco. Porto Alegre, Ubatuba. Pior dia da minha vida. Você tava em outra viagem, mas eu não desgrudava o olho do celular - pois agora você era só você. É estranho, mas sempre preferi quando não era, como da primeira vez. Neste dia, bebi todos os barris possíveis e falava de você para absolutamente qualquer estranho que cruzasse meu caminho. Fiquei mal, tão mal. Saudade da Mariana. Ela entenderia. Voltei mais cedo, ouvir seu nome me fazia vomitar. Você tava bem - machucado (não por minha causa), mas bem.

    Você parou de ser só você de novo. Eu fui pra Colômbia. Você não me ligou bêbado dizendo que tava muito mais feliz - essa parte eu inventei. Você jamais faria isso! Outros me ligaram, por isso voltei a te procurar em outros corpos. O tanto que você me machucou, eu machuquei outras pessoas. Karma? Fui pro deserto. Tinha me encontrado? Parecia que sim! Pela primeira vez, você era só uma lembrança e eu tinha o mundo! 

    Mudei a vida. Eu não era só mais eu. Mas tava feliz, parecia estar tudo no lugar. Ficou no lugar por um tempo. Não escrevi sobre você e consegui voltar a ver tudo o que você fazia. 

    Viajamos de novo. Lembrei hoje de que eu não precisava estar lá quando você chegou, mas de alguma forma, sem querer, eu fiz por onde ficar. Todos os dias, me ajeitava com o pensamento na possibilidade de você querer ser nós de novo. Não aconteceu. Exceto pelo último dia. O que teria acontecido se eu não ficasse tão nervosa perto de você e tivesse que vomitar toda a janta por conta das borboletas ensandecidas no estômago? 

    Daí, não lembro como foi. Mas lembro que, num instante, voltamos a ser nós. Dessa vez, nem eu nem você éramos só nós... Mas o encontro estava marcado. Toda semana! Matei aulas, inventei desculpas, mas estava na melhor fase que já estive. No entanto, dessa vez eu me lembro: minha presença fora dos momentos fatídicos pouco importava pra você. Mas e daí? Eu te tinha, por aqueles minutos, sem quaisquer interferências, só pra mim. Bastava...?

    Ah, adendo - você voltou a ser só você de novo. Me contou pessoalmente, bem me lembro. Te disse depois que estava brava por você estar distante - mas estava se resolvendo. Por um momento, tentei intencionalmente ser apenas eu também. Quem sabe não desse certo? Eu podia me abrir? Poderíamos ser só nós, juntos?!

    Mal mundial. Mas, antes disso, você entendeu. Nunca me disse se entendeu, mas eu sei que sim. Aquele dia no parque. Naquele dia, eu só queria ir com você. Mas você não fez questão, pois tinha entendido. Depois, gelo. E aí sim, o mal mundial. A distância tornou-se física - pois antes ainda não era. Tal distância física era o que eu tanto supliquei pro Universo antes, mas não era o que eu queria agora. Você foi sumindo. Eu decidi sair da sua vida - e você perguntou meus motivos. Eu, claro, não disse - já havia entendido que não podia mais te dizer. 

    Você parou de ser só você de novo. E aí desandou.

    Junho, um dia depois do sábado. Declaração. Julho, disse pro mundo. Agosto, café da manhã na cama. Mas nada daquilo era comigo.

    Eu, que achava que a distância era um aspecto seu, descobri que não era. Na verdade, era sim, mas só comigo. Você sabia demonstrar o que sentia e fazia isso de forma linda, mas nunca pra mim. Você sentiu? Ou inventei essa parte também? 

    Agora, estou parada na frente do teclado, fitando o nada e pensando se tudo foi fruto da minha imaginação. Eu, que jamais havia te olhado de outros modos, fui obrigada pela constante presença tua a te ver. E vi? Por que não houve sinceridade? Foi culpa minha? Ou você só me usou? Será que essa conversa acontecerá um dia?

    Bom, creio que não. Hoje, você dá um passo para alcançar o maior de seus sonhos, o sonho que eu jamais poderia te proporcionar - pois seria me anular. Mais. Na verdade, nunca nem lhe passou pela cabeça que eu pudesse, não? Enfim. Tudo muda permanentemente agora? Você está bem com isso mesmo? Creio que sim. Era seu sonho. Uma vez você disse! Depois de todo o tempo pressionando (antes), encontraria alguém e tudo aconteceria muito rápido. Você tava certo!

    Por que parece que minha vida parou? Por que toda hora isso passa na minha cabeça? Por que eu me sinto a mesma criança de tantos anos atrás, que não podia brincar - enquanto o irmão brincava? Por que parece que perdi? Era uma competição? Em algum momento... algo relacionado a mim cruza seus pensamentos? Não? Sim? Como é?

    Mais uma vez, você é minha eterna interrogação.


V.




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