Rue d'Auron

    Era sábado de manhã bem cedo, e o cheiro das padarias enchia o ar enquanto ela passeava com tranquilidade pela estreita e movimentada rue d'Auron. Todas as pequenas lojas estavam abertas, e muito outros moradores da pequena Bourges aproveitavam para fazer suas compras para o fim de semana, já que aos domingos tudo fechava. As lojas de doces exibiam orgulhosas suas vitrines com as mais delicadas e diversas pâtisseries, as floriculturas mostravam suas cores e aromas de verão, as frutarias anunciavam as frutas da estação e suas ofertas e até mesmo um compenetrado luthier consertava violinos de forma manual e quase poética.

    Apesar de ser um dia típico, aquele momento era quase como terapia. Por anos, viveu em grandes metrópoles, onde a pressa e a aspereza eram regra. Sonhou e muito planejou o dia em que teria uma semana produtiva, mas tranquila, com a presença de hobbies (que existiam por puro prazer), risadas com os amigos, boas refeições e serotonina, sem esperar que o fim de semana chegasse para que fosse feliz. E hoje, um sábado, era mais um dia devagar e harmonioso. Aproveitava a tarefa de comprar as baguetes para o café da manhã para exercitar os sentidos: ver as cores das vitrines, sentir o cheiro das comidas, conhecer texturas de novos livros, ouvir as conversas dos grupos de idosos que tagarelavam sobre alguma notícia que viram na TV, dar bom dia aos passantes. 

    Após comprar duas baguetes, caminhou um pouco mais pela rua e admirou mais algumas vitrinas. De volta à casa, colocou um blues antigo para tocar na TV e começou a preparar o café da manhã. O de sempre: ovos mexidos com alho-poró, uma fatia de queijo e um pedaço da baguete. O cheiro do café, que acabou de ficar pronto, inundava toda a casa. Sentou-se e apreciou aquele momento - sem celular, sem televisão, sem notícias. Apenas o momento presente e a calmaria, que agora já era de casa. 

    "Eu acho que gosto dessa vidinha..." pensou ela, enquanto esquentava as mãos na xícara de café. Um dia que começa na rue d'Auron jamais poderia ser ruim.


Vitória

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